Uma senhora entre grades e silêncios
Ela se chama Vildete da Silva Guardia. Nasceu em Santo André (SP), tem 74 anos, é mãe de Paula e avó dedicada. Vildete dedicou a vida ao trabalho e à família. Mas, em junho de 2024, a rotina de uma aposentada comum foi bruscamente interrompida: a porta de sua casa se fechou atrás dela e se abriu a de um presídio.
Condenada a 11 anos e 11 meses de prisão pelos atos de 8 de janeiro, Vildete se tornou, aos olhos da família, um exemplo de desproporção e fragilidade diante de um sistema que não enxerga idade nem doenças.
Nos corredores da Penitenciária Feminina de Santana, em São Paulo, ela perdeu peso, mobilidade e saúde. De uma mulher ativa, passou a depender de uma cadeira de rodas, lutando contra trombose, osteoporose, dores crônicas e depressão. Cada pedido de prisão domiciliar era negado.
Em abril de 2025, uma esperança surgiu: o ministro Alexandre de Moraes autorizou a prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica. Vildete voltou para perto da família, ainda com limitações, mas respirando liberdade. O alívio, no entanto, durou pouco. Em julho, alegando falhas técnicas no monitoramento eletrônico — como bateria descarregada e problemas de GPS —, a medida foi revogada.
A filha, Paula, conta que as supostas falhas ocorreram durante atendimentos médicos, sempre comunicados. Mas, na visão da Justiça, seriam indícios de “desprezo”. Vildete retornou ao presídio.
Hoje, a idosa enfrenta não apenas a cela, mas o peso emocional de uma vida que se esfarela. “Ela está bem abalada, bem desnorteada. Voltou a depender de antidepressivos e calmantes”, desabafa Paula. Além disso, uma infecção de ouvido lhe causa dores constantes. “Agora a gente vai cuidar dela e, se Deus quiser, ela vai ficar bem.”
Na cela fria, restam as lembranças de uma vida simples, o carinho distante da filha e a luta pela dignidade de uma mulher que envelhece sob custódia. O corpo enfraquecido — hoje com cerca de 40 quilos — é testemunho de que a pena vai muito além das grades.
A história de Vildete não é apenas sobre uma condenação, mas sobre o limite entre justiça e compaixão. Sobre até onde vai a mão do Estado e onde começa a fragilidade da vida humana.
Podia ser você.